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A demanda por serviços móveis com necessidade intensiva de largura de banda está aumentando em toda a América Latina. Isto representa oportunidades significativas para as companhias satelitais no âmbito de rede de retorno. Nós avaliamos as oportunidades para as provedoras satelitais nesse mercado vibrante.
América Latina é um mercado importante para a indústria satelital no presente. Entretanto, isso não ocorre somente nos campos da transmissão e da televisão por assinatura. O mercado de rede de retorno é vital e muitas companhias de telecomunicações estão recorrendo a satélites como parte de suas soluções de rede de retorno.
Quando se conduz pelas rodovias das áreas rurais ou remotas do Peru, são muitas as estruturas imponentes visíveis. Entretanto, não se trata de serviços básicos, como serviços sanitários ou rodovias pavimentadas, mas sim uma antena da Claro em cima de cada edifício rústico e dilapidado. Esta é uma boa forma de visualizar o papel dos serviços de telecomunicações na América Latina.
Trata-se de uma região em desenvolvimento com um potencial enorme. Entretanto, ela carece de infraestrutura básica em muitas áreas. Contudo, as pessoas em todos os lados, apesar de possivelmente não terem acesso a serviços públicos básicos, exigem largura de banda como parte de seus serviços de telecomunicações. Entre os 570 milhões de habitantes distribuídos ao longo de uma área de 21.069.501 km², quase 15 por cento da superfície da Terra, há uma necessidade crescente de conectividade em áreas remotas, frequentemente em áreas onde não há nem mesmo rodovias adequadas.
“A rede de retorno celular via satélite continua a ser um dos principais propulsores de capacidade satelital e de vendas de sistemas terrestres na América Latina. A maioria dos países usa redes de retorno satelital em maior ou menor medida; entretanto, a demanda mais significativa vem do Peru, Brasil e Colômbia. Esses três países contam com um conjunto comum de condições que permitem a instalação de redes de retorno satelital em grande escala. A infraestrutura terrestre apresenta desafios geográficos, populações amplas e espalhadas, políticas governamentais ativas de obligações de serviço universal (USO) e crescimento econômico geral”, afirmou o analista Carlos Placido, da NSR. “A grande maioria das provedoras de serviço móvel celular já usa redes de retorno satelital em áreas sem acesso terrestre apropriado. Além disso, há um número de empresas bastante concentrado no mercado sul americano, entre as quais se destacam Telefónica/Movistar e Telmex/Claro”.
Segundo Placido, a Claro no Peru, a Vivo no Brasil e a Comcel na Colômbia constituem três das companhias mais progressistas que usam a rede de retorno satelital na América Latina. “Um dos casos mais interessantes é o da Telefónica, na Argentina, que realizou um dos projetos de otimização de rede mais pragmáticos na região. A Telefónica baseou-se em tecnologias de links e tecnologias compatíveis com aplicativos para obter mais bits por hertz de capacidade satelital, maximizando assim o retorno sobre o seu investimento. Para maximizar a transmissão de dados e liberar capacidade, a Telefónica incorporou tecnologias de codificação e modulação adaptável (ACM de sua sigla em inglês) seletivamente, como DVB-S2 ACM, codificação LDPC flexível, cancelamento de portador de saída e otimização do protocolo GSM”, afirmou Placido.
Crescimento de serviços móveis
A Telefónica-Vivo é uma das maiores companhias de telecomunicações do Brasil e proporciona quase 90 milhões de conexões de serviços móveis e fixos no país. A demanda por serviços de rede de retorno está aumentando. José Antonio Guerra Expósito, gerente de serviços satelitais da Telefónica-Vivo, indica que “o crescimento dos serviços de telefonia móvel é impressionante e estamos superando as lacunas de cobertura em áreas remotas graças aos satélites. Os satélites são um elemento-chave que permite que a Vivo chegue a todas as áreas povoadas do Brasil, especialmente numa sociedade em que a telefonia móvel se converteu em uma necessidade básica. Nesse sentido, os satélites nos garantem um crescimento robusto nos próximos anos”, ressaltou.
As soluções mistas parecem ser uma boa forma de operar para os clientes satelitais da América Latina. “Apostamos estrategicamente numa solução de banda C para as conexões celulares a rede de retorno, VSAT em banda Ku para redes corporativas e projetos de inclusão digital e VSAT em banda Ka para redes corporativas em zonas urbanas”, assinalou Guerra Expósito.
Guerra Expósito também disse que as soluções satelitais permitem que a Telefónica realize difusões múltiplas e transmita conteúdo a vários usuários que ocupam a largura de banda que tradicionalmente seria ocupada por um usuário apenas. “Nossos concentradores, ou hubs satelitais estão conectados à rede MPLS da Telefónica. Como somos uma provedora que oferece VPN com conectividade MPLS, proporcionamos maior qualidade e segurança aos nossos clientes corporativos”, indicou ele.
Única solução
Hermán Camilo Mariño Montoya, gerente de planejamento de rede Tigo, uma provedora colombiana de serviços, afirma que a rede de retorno satelital é a única solução na Colômbia para áreas em que as tecnologias de fibra e micro-ondas não funcionam devido à topografia do país. “A demanda atual é superior a 1 Mbps, a capacidade inicial deste tipo de tecnologia. As necessidades de largura de banda aumentaram devido ao aumento do uso de telefonia móvel e às mudanças das redes móveis”, assinalou.
De acordo com Russell Ribeiro, vice-presidente regional de vendas da Gilat Latin America, as redes de fibra não poderão chegar aos mercados onde as provedoras já estão chegando com redes de retorno. “O mercado da América Latina é enorme. Definitivamente está crescendo, mesmo que seja difícil de estimar. Além disso, posso vislumbrar um crescimento nas soluções integradas, como VSAT com BTS e cenários futuros emocionantes nos quais DAMA e SCPC trabalham dentro do mesmo VSAT”, assinalou Ribeiro. “TIM e Vivo no Brasil, Tigo na Colômbia e Bolívia, Entel na Bolívia, Claro na Nicarágua, Iusacel no México e Telecom Argentina na Argentina, são algumas das provedoras que estão investindo atualmente em soluções satelitais”, disse ele.
Penetração da banda larga
A penetração da banda larga móvel na América Latina é ainda relativamente baixa (menos de 15 por cento). Entretanto, 48 por cento dos planos móveis na Argentina contam com um elemento de banda larga. O Brasil possui 41 milhões de usuários de banda larga móvel, e as projeções indicam uma espiral ascendente. A 4G Americas prevê que esta cifra de penetração de menos de 15 por cento aumentará para 57 por cento em 2015.
Há uma percepção de que as oportunidades de lucro nessas áreas são sólidas porque a maioria de participantes pressupõe que haja uma escassez de largura de banda, especificamente devido ao aumento da demanda e à falta atual de soluções adequadas. “Mesmo que a demanda por serviços de dados e vídeo contribua a esta situação, na NSR frequentemente vemos a falta de capacidade na América Latina como um problema de oferta mais do que de demanda. A capacidade de oferta satelital se apresenta em ondas plurianuais, e no passado a oferta ficou para trás da demanda. Não devemos esquecer como os mercados emergentes caracterizam-se por sua volatilidade. Portanto, as provedoras satelitais globais foram cautelosas ao agregar capacidade imediatamente. Eu mantenho viva a lembrança do cenário passado de excesso de oferta na América Latina”, comentou Placido.
Cenário de excesso de oferta
Jorge Villarreal, CEO da provedora mexicana de serviços, Elara, disse que a companhia vem usando satélite desde 2004. “Iniciamos nossas operações na Cidade do México em 2004. A ideia no momento foi a introdução de tecnologias satelitais que serviriam certos nichos desatendidos no México e na América Latina. Nesse momento, não havia provedoras de serviço especializadas nesses nichos”, assinalou. Naquele então, a ideia era oferecer serviços do tipo “chave em mãos” (turnkey) a mercados verticais específicos que tinham necessidade de grande largura de banda com conectividade IP via satélite.
“Ficamos sabendo sobre a iDirect, que implementou o primeiro concentrador (hub) iDirect na América Latina, e assim é que nasceu a empresa. Hoje, cobrimos diferentes mercados verticais, como varejo, gás e petróleo, mineração, construção, corporativo, financeiro, e temos vários projetos governamentais específicos no México com o uso de soluções Wi-Fi e VSAT, por exemplo, e linhas de telefonia fixa em áreas remotas. Operamos nossa rede usando nossos contratos de nível de serviço de teleporto e provedora. Cobrimos a região com o uso de cinco satélites diferentes”, disse Villarreal.
O Brasil constitui um exemplo muito bom de mercado rico para a indústria satelital, já que reúne todas as condições que exigem estes tipos de soluções. Possui uma economia em crescimento, pouco afetada pela crise atual devido às medidas sociais implementadas pelos governos recentes e oferece um cenário atraente para investidores estrangeiros. Mais de 40 milhões de brasileiros passaram da classe baixa à média em sete anos, ou seja, de 63 milhões a 103 milhões de pessoas de classe média em 2011, um crescimento de 64.3 por cento, de acordo com o grupo brasileiro de pesquisa, Cetelem BGN.
Há novas oportunidades para oferecer serviços de telecomunicações a estas novas classes médias dinâmicas. São clientes potenciais de serviços fixos e de banda larga móvel no Brasil. Até o final de 2011, quase 80 milhões de pessoas, de uma população de 190 milhões no Brasil, usarão a Internet em seus lares ou escritórios. Além disso, a banda larga atualmente chega somente a 47 por cento do território brasileiro devido à escassez de infraestrutura de cabo. “O uso dos planos de dados telefônicos inteligentes é um dos impulsores determinantes da expansão de qualquer empresa de telecomunicações. No Brasil, o satélite ajudará a levar o serviço de voz e dados em 2.5G, 3G o 4G a qualquer lugar”, assinalou Guerra Expósito.
Projeto governamental
O Brasil possui um ambicioso projeto governamental chamado Programa Nacional de Banda Larga. O objetivo deste projeto é proporcionar serviços de banda larga de 1 Mbps por $17 ao mês às residências em regiões remotas. Isto também representa uma nova perspectiva ao mercado de Brasil. O governo brasileiro planeja lançar dois satélites para seu uso como rede de retorno, um em 2014 e outro em 2019, com o fim de fornecer serviços de banda larga em mais de 1200 cidades para as quais não se pode levar infraestrutura terrestre.
Até o presente, a quantidade de informação sobre este projeto foi relativamente limitada, já que as agências oficiais estão-se mantendo razoavelmente discretas. Entretanto, sabe-se que as soluções satelitais oferecem a possibilidade de fornecer soluções para 1000 a 3000 cidades remotas, especialmente no norte do país. De acordo com o Ministério das Telecomunicações do Brasil, esta solução poderá contribuir para com a capacidade de fornecer banda larga a quase 25 milhões de pessoas em áreas remotas não muito povoadas.
O dilema para a provedora de telecomunicações é que, segundo eles, é impossível oferecer um serviço de 1 Mbps a cerca de $17 mediante o uso de uma solução cara de rede de retorno. A companhia estatal Telebrás, responsável pelo fornecimento de serviços de telefonia durante os anos setenta, foi dissolvida em 1998, e o ex-presidente Lula a ressuscitou para administrar o programa nacional de banda larga, PNBL.
Um grande número de usuários finais sentem que os serviços de banda larga na América Latina são muito caros. No Brasil, por exemplo, custa em média 24 vezes mais do que nos Estados Unidos, o que corresponde a 31.8 por cento do salário mínimo. As companhias assinalam que é difícil oferecer preços atraentes quando se usa a rede de retorno via satélite. “O cliente sempre quer mais capacidade de largura de banda a preço mais baixo, e isso, naturalmente, não é tão fácil de oferecer”, disse Guerra Expósito. “Trata-se de desenhar as nossas redes muito detalhadamente, otimizando a informação em banda base e as comunicações em radiofrequência”, agregou.
Para Villarreal, o uso de satélites poderá originar aumentos significativos no preço dos serviços, apesar de ser fundamental na região. “Em alguns casos, como solicita um cliente, precisamos controlar os aplicativos que usa o usuário final para controlar os custos de largura de banda não-satelital. Em termos de área móvel, mesmo que seja possível proporcionar a rede de retorno satelital para chegar a áreas remotas com 2G o 3G, vimos que as provedoras estão mais interessadas em 2G quando usam a solução satelital. Isto permite o melhor custo/kb”, explicou.
“Como resultado de um fornecimento limitado de capacidade e preços altos, muitos participantes estão focando mais na otimização de redes para permitir seu crescimento”, assinalou Placido. Montoya disse que quando a demanda de banda larga aumentar devido ao desenvolvimento da tecnologia móvel, o investimento em satélites pode diminuir. “Isto se deve ao alto custo do segmento satelital e as limitadas oportunidades de uso desta infraestrutura em particular. Estamos considerando usar tecnologia de fibra ótica e restringir o uso do satélite”, agregou. Também confirmou que a necessidade de rede de retorno será três ou quatro vezes maior do que a cifra atual em dois ou três anos.
Cenário futuro
Mesmo que seja ainda necessário superar alguns obstáculos, o mais importante dos quais é o alto custo do uso do satélite numa região em que os serviços devem ser oferecidos a um custo baixo devido a circunstâncias socioeconômicas, todo o mercado aposta no potencial de crescimento do setor satelital como solução de rede de retorno, especialmente em razão da mudança de enfoque do usuário final, que anteriormente exigia serviço de voz, mas agora exige serviço de dados.
“A América Latina é o lugar ideal para a expansão satelital por muitas razões. Para a Telefónica, é a região em que temos maior penetração de serviços”, disse Guerra Expósito. “É impossível chegar a alguns lugares com infraestrutura terrestre. Na Vivo, lidamos com capacidades que superam 1 Gbps, o que não é surpreendente em comparação à velocidade binária que se transmite através de cabos; entretanto, é enorme em termos de satélite”, agregou.
Frost & Sullivan estimou que a quantidade total de lucro oriundo dos serviços de comunicação de dados na América Latina, principalmente Brasil e México, aumentará em mais de $4 bilhões em 2009 a mais de $6 bilhões em 2015: uma taxa composta de crescimento anual de 7.4 por cento.
Villarreal disse que a capacidade aumenta de 20 a 30 por cento ao ano. “Além disso, cremos que este número continuará aumentando. Há muito espaço para crescer e resolver as necessidades de comunicações via satélite. As provedoras agora percebem quão fácil é integrar e usar estas tecnologias de forma fluída e ininterrupta, adaptando-se às redes existentes”, afirmou.
Placido está de acordo. Pensa que uma mudança de enfoque do serviço de voz ao de dados móvel em relação à fonte média de renda por usuário será o maior propulsor do mercado nos próximos anos . “A rede de retorno do serviço móvel de dados forjará as redes de retorno satelital no futuro, mas o lucro por bit transferido associado ao serviço móvel de dados é substancialmente menor do que a do serviço de voz, o que representa um desafio às provedoras quanto a igualar os lucros do serviço de dados com o custo de transferência através do serviço satelital fixo (FSS em sua sigla em inglês) tradicional. Em vista disso, as agências regulamentares estão impondo condições mais flexíveis em relação à expansão do acesso a dados em novas áreas ou municípios”, explicou.
Placido acredita que a rede de retorno de dados significará maior enfoque na escala das redes satelitais, no uso de tecnologia otimizada e potencialmente na capacidade de transferência satelital de alto volume (HTS em sua sigla em inglês). “HTS poderia de fato resgatar o modelo de negócios da rede de retorno de dados móvel e encaminhar à rede de retorno celular ainda mais na direção das ofertas administradas por subcontratados. Atualmente, as provedoras de serviço satelital, como a Telespazio, oferecem serviços de rede de retorno subcontratados a provedoras no Brasil e na Argentina, e esta tendência pode vir a ser enfatizada no futuro, à medida que a rede de retorno de dados por IP se revela ainda mais importante”, ressaltou Placido.
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